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Histórias da Vela









IÇANDO O BALÃO

Para subir o balão 
E que a manobra seja boa
Primeiro passe o balão

Pelas costas da genoa. 




Juntando punho com punho

Até que chegue na saia

Coloque o punho de barla

Na posição da zagaia. 



Com destreza arme o pau

Acima do garlindeu 

De forma que o danado 

Fique olhando pro céu



Ai com todo cuidado

Puxando o cabo da nau

Levando o punho de barla

Ate a ponta do pau. 



Então com todo vigor

Puxe o cabo da adriça 

De maneira a fazer

Que o top ao topo iça. 



Dai com tudo na boa

Pensando no amanhã

Desça logo a genoa 

Cuidando do sutian. 



Deixe o balão bonito

Com o nylon bem esticado

Caçando a escota de sota

Pra mante-lo mareado. 



E pra descer o balão

Tem que ser coisa ligeira

Senão com toda razão

Ele vai dar a rasteira

Como o assunto é demorado

E precisa treinamento

Vou deixar o rumo da prosa

Para contar n'outro momento.



Henrique. 12-7-2016




JIBE PERFEITO

Pra dar o Jibe correto
Que seja manobra perfeita
Há que se ter a pegada
Manter o barco bem reto

Quem ao dar o Jibe arraza
Espera haver em sincronia
Aguardando o comandante
Velejar no popa raza

Ai começa a encrenca
Que é balão mudar
Pro lado mais favorável
Pra mais vento ele pegar

Primeiro se pega a escota
Que está à sotavento
Prendendo na ponta do pau
Que estava à barlavento

O mestre sempre falava
Quem dúvida vai provar
Se vc não der o jibe
A retranca vai cambar

Então na sabedoria
Atenção ao movimento
Prendendo uma ponta no mastro
E a outra no cabo de barlavento.

Ai o balão enfuna
Em sua forma perfeita
Cuide sempre que os cabos
Fiquem à sua direita

Pra saber a hora certa 
Do jibe no balão dar
Olhe sempre se a biruta
Pro outro lado apontar

Diz nossa filosofia
Nunca barla ir soltar
Andes do comandante
No popa raza estar

Ai a proza de novo muda
Pro tal balão arriar
Mas como é complicado
N'outra rima vou contar

Henrique  13-07-2016







O QUE É UM VELEIRO

Álvaro Snibwiesky

Dentre as criações humanas, um veleiro é a que mais se assemelha a um ser vivo. Responde as forças da natureza quase como um animal.


É um cruzamento de peixe com ave, seu casco corta a água com delicadeza e força, suas velas são asas potentes que o impulsionam sem bater.



O veleiro sempre oferece nobremente o melhor de si, é um ser instintivo e natural a quem é impossível enganar com ordens erradas que pretendam impor-lhe manobras contra a natureza que o rodeia.


Não existem veleiros exatamente iguais, eles possuem alma e personalidade próprias. A personalidade é uma característica que se percebe facilmente. Basta observá-lo, ouvi-lo e senti-lo.  Cada veleiro tem seu próprio caráter que se acentua com o passar dos anos. À medida que o barco amadurece com o uso, a sua personalidade se define.

Todo veleiro tem cheiro próprio e o som que produzem é sua voz.

Sua alma é sua voz e têm origem no doce ranger de painéis, móveis e anteparas, na vibração de seus estaimentos, no borbulhar suave do leme cortando o mar debaixo do seu casco.

Nutre-se do intelecto, do sangue, do suor e das lágrimas de quem o desenhou o construiu, pintou, forjou suas ferragens, costurou suas velas. É a obra de sonhos altivos e merece ser tratado como um filho bem-aventurado.

Tem na alma, a esperança, a ansiedade, temores e recordações de todos aqueles que, levados pelo vento, com a mão no timão, caçam escotas e adriças.

Fundamentalmente, invoca a alegria dos bons momentos compartilhados entre homens e mulheres que amam os seus veleiros e os desfrutam passando a bordo os mais intensos momentos de suas vidas.

Os veleiros são objetos criados com arte, tempo e esforço que carregam em seu bojo um valor espiritual agregado, o “mana”, descrito em verso e prosa pelos nativos da Polinésia, reconhecidamente, os maiores navegadores a vela que o mundo já conheceu.

O “mana”, esse algo mais, é a melhor maneira que encontramos para definir este “não sei o que” tão grande, tão importante, sensação de presença viva que um veleiro sempre nos transmite.







PEDIDO DE UM FILHO AO SEU PAI

Pai, porque as pessoas que Velejam parecem tão felizes?

- Olha filho, na minha opinião eles são loucos.
Eles tem uma estranha filosofia, eles pensam que são livres, eles acreditam em aproveitar o vento em suas faces, a chuva, o sol e todo o resto.
Eles chamam seus amigos de irmãos; eles ajudam uns aos outros, eles se cumprimentam mesmo se o outro for um desconhecido.
Quando eles atracam eles de abraçam como se não se encontrassem há anos, eles vivem o momento, eles estão suscetíveis a ficar a deriva e ficar no meio do nada a qualquer momento e aparentemente não se importam.

- Pai, você pode comprar um veleiro pra mim?

(autoria desconhecida)







UMA REGATA CHAMADA 50 MILHAS

    Uma , duas , três , quatro , cinco ....

O som da voz de uma marinheira de primeira viagem contando , imaginem só ! as voltas que dava o anemômetro do Albatroz, iluminado pela luz de tope na noite do último sábado , aquele som distraía minha atenção , enquanto eu com o binóculo observava passar silencioso o veleiro Laboisisere . Logo após passou o Conde , todos seus tripulantes acocorados , como quem confabula em torno de um chimarrão , tudo muito lentamente . Nós , que voltávamos de um simples passeio para curtir o entardecer , íamos como o barco aproado rumo ao cais do Iate , lentamente , ora admirando as estrelas

entre as nuvens ora as luzes da cidade ...

    No campo do binóculo apareceu o Red Soul  , ora aproado rumo ao Clube do

    Congresso , ora aproado rumo ao Aeronáutica , tentando e tentando equilibrar o balão ...enquanto  o anemômetro do Albatroz girava lennntamennnte ...

_ E se o vento parar o barco para ? não para ?? , perguntou a marinheira de primeira viagem .

_ É o barco acaba parando , respondi .

_ E eles que estão na regata ?, a regata para se o vento parar ??

_ Não, o  vento pode parar mas a regata não para , respondi .

_ Não para !? eles  ficam aí  parados e a regata não para !!! até amanhã !!!!

    O que minha convidada , marinheira de primeira viagem não entendeu é que quem vai para uma regata como a 50 milhas , vai mais do que "correr" uma regata , vai para realizar um desejo , quase um ritual de devoção a arte de velejar , coisa que quem só anda de lancha jamais vai compreender . E me veio à mente uma cena engraçada , imaginei no caís do Clube Naval , um marinheiro da Marinha , impecavelmente trajado , em posição de sentido com

aquele apito que soa um longo e agudo som  , que só é tocado quando Almirante chega , e quando o último barco que completasse a 50 milhas atracasse , se ouviria o Píííííííí´´iííí´´iíííí´´iíííííí´´iíí´´iíí´...seguido de um brado HERÓÓÓÓOIS



    NO CAÍS !!  e em seguida de todos presentes se ouviria uma salva de palmas .

    Aplaudam , pois a história da vela em Brasília não é feita só de medalhas , primeiros lugares e campeões !.                           

Aplaudam ! Pois a Regata 24 horas foi na semana passada .
Ivan Malheiros. março de 2001








AVENTURA NA ARTE DE APRENDER À VELEJAR  
 
     Há alguns anos quando hospedado em um hotel na Bahia   tive a oportunidade  de entrar em contato pela primeira vez com um veleiro,   um Laser,  ainda  posso lembrar a minha surpresa com aquele barco que não  obedecia de  imediato minhas vontades, como as lanchas que eu já   conhecia,  cresci  passeando em uma potente lancha de motor de centro,   seis  cilindros de exagerada potência que  obedecia de imediato qualquer   comando. 
 
    O veleiro  não . Era tudo diferente, eu queria ir para um lado teria   que puxar o leme  para outro lado  ... eu queria ir agora e só ia quando  ele queria ... eu  queria ir direto mas ele só ia em zig-zag ... eu queria  parar e ele não  parava ... eu queria isto,  eu queria aquilo e ele   TÉÉINNNN me deu uma  retrancada na cabeça para eu largar de ser teimoso,  como   fazia com um  cascudo na cabeça dos alunos,  os professores do tempo de  nossos avós . E  eu comecei a prestar menos atenção as minhas vontades e comecei a prestar  mais atenção nele, o veleiro.
   
     Esta primeira experiência me deixou uma desafiante   impressão  e pouco  meses após,  eu em Brasília,  comprava através de um  telefonema como meu  pai em Vitória, um Laser na Mesbla . Ainda me lembro os  sorrisos de  gozação do Cajatí,  do Mauro e do Ziga quando eu  desembrulhava o casco do  meu Laser no galpão do Iate . O barco era diferente,   mais largo, parecia  maior e mais bonito ... meu Laser era na verdade um  Holder,  mais o que  aquilo  importava ? eu nem sabia direito o que era  flotilha,  regata,   estas coisas,  meu primeiro barco estava lá e eu logo  sairia com ele para o  lago,    tirando fino logo de saída nos barcos que estavam  ancorados no cais   do Iate ... cuidado ! vai prá  outro lado ! puxa a escota ! ... escota ?   o  que é escota ?? ... é esse cabo aí ! ... cabo ??? ... é,    está "corda" aí  !!!  E logo por solidariedade ou diversão,  meus  primeiros amigos da vela  tentavam diminuir minha confusão . E eu começava a  aprender à aprender a  velejar . 
    Naquela época as regatas eram diferentes,  as regatas    festivas eram mesmo  festivas,  corriam todos os barcos juntos na mesma raia,   Laser,  Hobicat,   470,  veleiros de oceano ... e lá fui eu para a longínqua  raia sul  participar da minha primeira regata depois de muito  encorajamento do Cajatí  ... vai que é simples,   é um percurso triângulo  barla-sota ... barla-sota  ??? ... quando finalmente cheguei na raia,  obviamente  atrasado e me vi no  meio daqueles veleiros todos que eu começava à admirar,   me senti um   observador privilegiado vendo tudo de perto,  ali no meio  da competição ...   IVANNNN !! SÁAAI DA FREENNTE !!! ... era o Mauro berrando  do alto de um   veleiro que me pareceu enorme . E eu começava a aprender  à aprender a    competir em regatas .  Regatas . Como é que eu podia competir em regatas se só  existia três  Holders em Brasília ?
 
    Compra um Micro ! É compra um Micro   !! Micro ?   Microtoner,  aquele veleiro pequeno que parecia grande,  velejava bem e não  era tão caro . E alguns meses depois lá estava eu à bordo  do meu Micro,   o  Moonsoon . Não,  não era Musum,  era Moonsoon,  apesar de   alguns insistirem  em trocar seu nome para me provocar,  e eu gostava muito  dele .O Moonsoon  era um professor irrequieto e temperamental,   sempre com  um  cascudo-retrancada pronto à minha  primeira desatenção ou  teimosia . Me  ensinou à ficar atento rapidinho ! Mas eu não me entendia  muito bem com o  Moonsoon,  até que um dia surgiu para mim uma nova chance  de aprender . O  Ziga me convidou para compor com ele e o Fernando  Boanes,  a tripulação do  Moonsoon no Campeonato Brasileiro   de Microtoner que  aconteceu em Brasília  em 1995 . Ivan posso mexer no barco ? dar uma regulada ? Perguntou o Ziga .
    
    É claro fique a vontade . E antes que eu acabasse de   falar o Ziga e o  Fernando desmontaram o barco,  e afrouxa daqui aperta   dali,  furadeira  furando aqui e acolá e o barco se levantou diferente,    tão diferente que na  primeira regata chegou lá na frente,  em primeiro,  com  toda flotilha atrás,   inclusive os Micros de São Paulo . Eu me senti como que  traído ! como  pode este barco turrão andar com esta eficiência e leveza  nas mãos do Ziga ... e eu logo percebi que o turrão era eu . O Ziga é um  excelente professor, conversa pouco e ensina muito,  me fez entender que  primeiro entenda o  barco para então não o atrapalhar, um bom barco quase  que veleja sozinho,  aí não há mais conflito só   eficiência .
E o tempo passou e vieram os filhos e as filhas,  e as  filhas são   diferentes,  não acionam o chafariz por cima do  guarda-mancebo,   elas  precisam de banheiros . E eu comecei  a procurar um bom   banheiro à bordo, até que um dia passeava com meu filho e uma filha pelas mãos no cais do Iate,   quando minha  filha se soltou de minha  mão e  tchibummm ! mergulhou  na piscina do cockpit de um Delta 26 novinho que acabara  de chegar, era o  Hookipa . A filha do Mauro encheu com a mangueira o  cockpit do veleiro e   estava lá toda contente . Para minha surpresa,  o bom o  humor e até a falta  de ciúme com o barco novo demonstrado pelo Mauro, me  chamou a atenção .

    Vem ! entra vem conhecer o barco ! e eu passei pela piscina e fui direto  ver se aquele era o banheiro à bordo que eu procurava . 
     Era melhor do  que  eu imaginava ! um bom banheiro,   fogão,  geladeira,  até  um camarote com  porta na proa! .... Pai que casa legal !!! exclamou meu  filho ao entrar no   barco depois de mim . Voltei ao "deck"da piscina e ouvia  o Mauro elogiar o  mastro,   a forma do casco,  a performance ... e eu ainda  não estava   preparado para aquilo,  eu só via a "casa legal".
   
    Que  conforto !  Um ano depois chegou meu Delta 26,  o Albatroz . Com o  Holder eu aprendi  que podia querer à aprender,  com o Moonsoon comecei a  aprender,  mas com o  Albatroz era tudo  diferente,   ele é um professor  poderoso e calmo,  tem paciência,  me corrige suavemente,  sabe esperar . Me  ensinou a olhar suas  asas,  as que negociam com o vento ... aprendi a levantar  a cabeça da minha  mesa de trabalho e redescobrir que nossa cidade tem um  belo céu,  belas  nuvens,   ora grandes e brancas ora frágeis e longas como  rendas .
 
    Reaprendi  que as nuvens dependem dos ventos,  que os ventos movem  os galhos mais  delgados de uma maneira e os  mais fortes de outra,   quando nos chega de  diferentes direções,  reaprendi à olhar os galhos,  as   folhas,  as árvores de nossa cidade,   reaprendi a levantar os olhos da minha  mesa de trabalho .
    Me ensinou a olhar suas asas,  as que negociam com a água,    a quilha e o  leme,  quando das águas claras do nosso lago pode-se ver  aquele vulto   branco se movendo na transparência verde do Paranoá .

    Mais uma vez o Ziga subiu à bordo . Com o Ziga no timão  o Albatroz chegou  em primeiro na Regata da AABB .Ele voou suave e sem  esforço . Na Regata JK  2000,  apesar do peso da "casa legal"  com TV à cores,  geladeira elétrica, ventilador,  coleção de revista da Turma da Mônica ...  o  Albatroz se  moveu na interface vento e água com tal eficiência que  deixou a flotilha lá  atrás,  chegando colado no fita azul . Na última Regata  Solitário eu  procurei seguir os conselhos do Ziga,   interferi pouco e  deixei o barco  andar e novamente cheguei com a flotilha  toda atrás,  exceto pelo fita  azul . O Ziga conseguiu em poucas lições me ajudar a não  ter conflitos com  o Albatroz  e obter eficiência ao velejar .

    O Westone tem me feito a subversiva proposta de retirar  o motor de popa  que descansa no engate do Albatroz,  regata após regata,    sei até que  aquele motor não combina com a nobreza de um veleiro ...   mas não  sou dono  de meu tempo,  não posso ficar ao sabor das calmarias,  aos caprichos dos  ventos ... meu tempo pertence as Luízas,   aos Pedros,  as Marianas,  aos  bebês que ainda estão para nascer ... se eu pudesse  tiraria  não só o motor  mas também o celular e o bip da minha cintura,  se eu  pudesse ...  Se compartilho com todos meu caminho no aprender a  velejar é  porque sei   que se tivesse tido ao seu tempo um bom professor,  apesar de muito  divertido tudo  teria sido mais breve e eficiente.
 
     É  também por isto que  estamos criando a E V V O D 26 - Escola de Vela em  Veleiros de Oceano  Delta 26, onde acredito que cada aluno(a) pelo seu  caminho na arte de  velejar vai reaprender a ver as asas de um Delta,  reaprender a levantar a cabeça da mesa de trabalho e ver as nuvens,   reaprender e entender o vento, reconhecer a força das rajadas pelas diferenças de tons  de verde do  Paranoá . E vai se tornar um bom regatista sem perceber,   sem ansiedade e sem conflitos .
Bons ventos,  todos os ventos,  um abraço à todos .

Ivan Malheiros.

Maio de 2001








DE ARMA EM PUNHO

Colegas velejadores,



     Só para esquentar a discussão, relato um fato muito interessante que ocorreu comigo quando velejava entre o CMIC e o Pontão do Lago Sul. 

     Velejava com través  folgado em companhia de uma casal de amigos. Escutávamos o rugir de alguns motores de Jets que saíam do pontão e disparavam por todos os lados. Súbitamente, recebemos um fluxo de água que molhou a todos e a toda a popa do Fast abaixo da retranca. Pegos de surpresa, verificamos o ocorrido:  o alucinado condutor  do Jet divertia-se fazendo manobras em quase colisão com o casco do veleiro, as quais levantavam um forte jato de água que molhava a todos.

     Em uma segunda tentativa ele foi por nós impedido, e ao ser repreendido, revoltou-se, foi ao pontão, buscou uma arma, e retornou à carga. Como observei a sua manobra por um binóculo e não tenho a intenção, nem o preparo para trocar disparos com ninguém, liguei o motor e fui obrigado a encerrar a minha velejada retornando revoltado para o Cota Mil. O desvairado cidadão ao verificar a minha manobra, desistiu de manifestar a sua valentia, provavelmente devido às  muitas testemunhas à volta. 

     Pelo que percebo, em geral a índole dos condutores de Jet é a da intolerância, do exibicionismo e da auto-afirmação, manifestada através do poder de condução da potente máquina, que fornece uma ilusão de poder.

     Diante da evolução dos fatos, creio ser quase impossível uma convivência pacífica entre veículos e padrões de comportamento tão diferenciados. 

     Sómente uma legislação punitiva e coercitiva eficaz, aliada a uma forte campanha educacional, poderá nos livrar das lamentáveis consequências que estão a caminho.  Da mesma forma que os carros de corrida são confinados em autódromos, os Jets devem ser  confinados a uma raia específica e preparada para tal finalidade.

Saudações a  todos e um forte abraço aos amigos.



Miguel  Cleto

Janeiro de 2001











BORRASCA NA VOLTA

Gostaria de contar o acontecido conosco na volta da Regata Aniversário do Iate Clube. 

Após a regata, preparamos o Tekinfim para a volta, e o que parecia uma navegação tranqüila de volta para casa, se transformou em um complicado incidente.

Quando já estávamos na altura do Projeto Orla, navegando pelo meio do lago, vimos aproximando rapidamente uma borrasca que entrava pelo "canal da Casa da Dinda". 

Procuramos logo nossos abrigos e os coletes, pois sabíamos que o barco molhado é um convite a tombos e poderíamos cair no lago.

Procurei conduzir o Tekinfim mais afastado da margem que podia, contudo o vento forte logo encapelou o lago e ondas de quase um metro nos atingiam por bombordo. Com esta navegação, nosso motor, um "valente" Yamaha de 2 HPs, estava saindo da água constantemente, fato que provocou aquecimento e as paradas que eram eventuais acabou por tornar definitiva nos deixando seu propulsão.

Márcia, proeira esperta que é, cantou certo o procedimento, "- VAMOS COLOCAR UMA VELA E SAIR DESTA". 

Minha intenção era abrigar o Tekinfm no pier do Hotel Lake Side, e mais uma vez acionei o motor sem sucesso. Neste momento, já não tínhamos mais como sair da encrenca. Lancei ferro para manter o barco longe da margem. Foi em vão. Só consegui manter o barco aproado por uns cinco minutos. As ondas eram grandes e o Tekinfim caturrava com tanta intensidade que acabou por arrancar o ferro do fundo. Eu não podia abrir lastro de cabo pois me faria chegar na margem e isso era o que eu não queria. 

Não tivéssemos como evitar o impacto da bolina no chão de lama, o que literalmente degolou o pino de segurança. (Eu uso uma válvula de motor com trava), A pancada também arrancou o leme, quebrando as travas de segurança.

Não restava mais nada a não ser recolher a bolina, pular na água e recolher o leme que boiava, encalhar o Tekinfim na margem e pedir ajuda. 

Verificamos com calma as avarias e as condições de navegabilidade do barco. Nada de séri

Pelo VHF, pedimos acionamos a náutica do IATE CLUBE que prontamente mandou uma lancha que nos rebocou para o meio do lago.

Recolocamos o leme no lugar mesmo sem a bucha inferior, levantamos uma buja e retornamos velejando com vento ao largo. Entretanto, sabia que corria o risco de quebrar o pino inferior do leme quando a velejada passasse a contravento pois sem a bucha de centralização o leme batia e fazia pressão no pino. 

Co receio desta avaria, já perto das obras da nova ponte, procuramos novamente ajuda, desta vez do CLUBE NAVAL que nos atendeu pelo VHF e mandou um reboque nos colocou em casa com segurança.

Quero com este relato, parabenizar àqueles que com presteza, rapidez e atenção nos ajudaram neste momento difícil.

Reconhecer o valor de uma grande proeira, que mesmo sabendo que ditou o procedimento certo, no momento certo, acatou a decisão de quem comandava sendo solidária em todos os momentos.
o que nos impedisse de navegar.

Henrique O.E. Ammirábile 
Comandante do Tekinfim.
Abril de 2001







      
HOMENAGEM AO CAPITÃO

Interessante a VIDA !

     Nós fomos programados (às vezes, nem tanto), gestados, e vem o nascimento, uma euforia, alegria pura !.   E depois vem o amor, o carinho, a dedicação..

 Depois a gente cresce, fica bobo e casa (alguns apenas "ficam").   Nesse ínterim, procuramos uma satisfação, um lazer, dentre uma imensa variedade de opções. Aí vem a surpresa:  22 pessoas pensam igual, dedicam-se ao iatismo e compram um Delta 26.  E "nasce" um novo amor para cada um de nós. 

     O que é isso ?  Delta 26 ?

     Certamente um caso de amor. Talvez um pouco caro, mas nunca corrompido, sempre sincero e à sua disposição para passeios ao luar, até para o amor, e, também, para competições.

     Uns mais afoitos, buscam alternativas para vencer ou vencer, outros "pequenas modificações" providenciais para vencer.  Outros apenas competir, outros apenas curtir..... VIVER, ESQUECER O STRESS, ARREGIMENTAR AMIGOS.

     Amigos ?  Palavra mágica:  A GRANDE RIQUEZA DE UM HOMEM.  Como chegar lá ? Dando o primeiro PASSO e, este, com certeza, está muito próximo de um consenso.  Algumas concepções precisarão ser desconsideradas, temporariamente adormecidas,  em favor da maioria.  Em favor da ALEGRIA E PRAZER de viver bem sobre o berço de nosso querido Lago Paranoá.  E todos ficarão tristes se alguém nos abandonar. Queremos é crescer mais.

     E derrepente surge um pacato velejador, que consegue agitar com brandura e fazer as coisas aconteceram por vontade global.  Lhe deram um apelido de CAPITÃO !  E êle aceitou, e uniu polos conflitantes.  Que beleza !

     A grande dúvida agora é que descobrimos uma profissão nova para êle, que nem êle apercebeu-se.  Seria um diplomata ?, um psicólogo ?, um poeta de finais de semana ?  ou simplesmente um velejador de CORAÇÃO ABERTO ?
Médico êle, que médico ?  Isso é para o mundo cão. Aqui êle é nosso Capitão.
     Quantos mais de nós teremos a ousadia de ABRIR NOSSOS CORAÇÕES e procurarmos um consenso ?  A alegria de viver um Delta 26 espera por todos. Quem se aventura ?
 Parabéns nosso Capitão Poeta Ivan Malheiros!   Continue assim!  Acredite!  É possível!

 TODOS AGRADECEMOS.

Westone  (Cayman)
ABRIL DE 2001








Últimas do Guardian

O SITE DO TEKINFIM 

Estimados amigos do GUARDIAN, vai ai uma dica das mais notáveis, dos últimos tempos, para o GUARDIAN e a FAMILIA SOMBRA.

Sábado meio chuvoso em Bali, recebemos de um amigo a informação para visitarmos o site do VELEIRO TEKINFIM.

O nome já ajuda e fomos lá !!!!!!

Hemorragias de prazer, além de ser muito interessante vocês irão se divertir, e tirem as criancas da sala, pois se a petizada resolve ficar brincando de pegar com o mouse o   nome do TEKINFIM..... nao vai é sobrar tempo para ninguém usar a maquininha !!!!!

Além disto claro, o momento maior é que o ´ídolo do Henricão é o de todos nós .........

O GRANDE E INESQUECÍVEL AYRTON SENNA DO BRASILLLLLLLL !!!!!!!!

Vale a pena irmão por tudo e pela beleza e ainda tem mais, o Henrique é rápido como um raio................

Valeu irmão Henrique, abração para você e a ALMIRANTA MARCIA.....



O irmão, Sombra

12/01/2002





A LÍNGUA DO VENTO     
    Esta pequena poesia surgiu quando meu amigo João Guilherme, após uma mensagem me disse:
nunca deixe de falar a língua do vento.
Ai pensei o que seria esta linguagem.

    A língua do vento, fala, assobia ou assovia, ruge, clama por ventríloquo na calmaria.


    Quantos de nós ou "nois" já não falou a língua do vento.. porranca, merreca, rondada, na cara ou as tradicionais través, popa, alheta, contra.



   Há !!! A língua do vento tem muitos dialetos por aprender.



  Vento que enche velas, rasga, bate, paneja, plana, alto, baixo.

  Vento que é força 1, 2,,,,, 12. Que é tufão, twist, tormenta, clarão, "redemoinho" que venta.



    Vento que nos é predileto como força, frescor, perigo e respeito.

    Venta vento. Que nós estaremos sempre ao seu sabor e tentando enfunar nossas velas e atingir os portos alegres.



    Vento .... Oh vento! Ele fala sua língua em qualquer idioma e é entendido por todos.



    A língua do vento é fácil, rica, forte e eclética.



    Venta vento !!  Que nós estaremos sempre a aprender contigo.

   

Henrique Ammirábile







HOMENAGEM À MINHA EX-PROEIRA - MÁRCIA

Que nada melhor do que uma mulher que seja sua proeira, baloeira e palpiteira.

Que discuta as táticas, encha o saco quando na TPM.

Que veja sempre os defeitos que você não vê e não veja os defeitos que você vê.

Que conte o tempo da largada, fique de olho na raia e cante a rajada.

Que vista a camisa do seu time e que quando você perde, perca junto com você.

Que quando está na regata ELE e ELA dê um banho naquelas que não velejam.

Que tenha a humildade de dizer não sei, não consigo, e diga isso ao seu lado.

Que aprenda com você e você com ela. 

Que receba o troféu na premiação e leve-o para a sua casa e que você possa vê-lo também na sua estante.

Que seja a sua fiel companheira entre cabos, moitões, velas e lençóis.

Que tenha metade do seu Veleiro, metade do seu Motor e todo o seu Amor...

Que você tenha a certeza que velejar com os amigos é muito bom mas com ela... é especial.

Que não corra as 24 horas mas esteja 24 horas no seu pensamento.

Que sem ela o seu barco flutua mas não anda.

Que seja o seu centro vélico, e que esteja sempre atenta nas rondadas que a vida nos prepara e diga :



-"ESTAREI SEMPRE NA PRÓXIMA REGATA COM VOCÊ".
Henrique O.E.Ammirábile
Comandante do Tekinfim







MIGUENS - UM AMIGO MESTRE
Ola Pessoal.

Aproveito este espaço para apresentar um texto, escrito pelo Zelão, que trasmite tudo a respeito de um amigo.
Em nossas mentes teremos sempre a figura do Miguens, um tranquilão, afetuoso, preciso e acima de tudo um mestre
Velejador experiente,  deixa um vazio muito grande em todos nós.

        Esteja em paz amigo
 

Caros Iatistas,


Como amigo pessoal e antigo do querido Comandante Miguens, fiquei
amargurado com a notícia da sua prematura morte. Homem de hábitos
simples,de postura franciscana, inteligentíssimo, primeiro da sua turma, foi
comandante do Navio Oceanográfico Alvaro Alberto, que na época acabara
de ser incorporado ä Marinha do Brasil. Esse navio serviu na Antártida, sob
o seu competente Comando.

Altineu Pires Miguens, esse era o seu nome completo. Levou inúmeros
velejadores do Brasil, em especial de Brasília a se graduarem como
Mestre Amador e Capitão Amador.

Era um professor brilhante, sabia tudo de navegação. Se temos uma
carta náutica do Lago Paranoá devemos isso a Marinha e ao nosso Miguens. Ele
participou da sua elaboração e dos trabalhos técnicos de batimento do
fundo do lago. Era uma homem ligado a hidrografia. fez dela sua escola e
sua arte.

Suas publicações intituladas de "navegação: A Ciência e a Arte"
demonstram sua ligação com essa tão antiga arte. Ele era ao mesmo tempo um
discípulo
e um mestre.

Tive a oportunidade de realizar junto com ele, com o Gustavo Shneider,
o Robson Paoli, o Péricles Toledo, uma viagem a bordo do "Kraka", (que no
retorno contamos com o Marco Antonio Quezado e com o João Goulart, que
publicou na sua página o diário de bordo que escrevi sobre a viagem) de
Brachuy no Estado do Rio de janeiro, até o Arquipélago dos Abrolhos.

Foi uma aventura sensacional, e o Miguens foi o nosso competente
navegador. Não tínhamos o GPS, usávamos o Sextante e o radiogoniometro.
Chegamos navegando a Abrolhos, debaixo do Farol, as quatro horas da
manha, numa região de difícil navegação. Ele acertou na mosca. Ele se
apaixonou pelo "Kraka", chegando posteriormente a compra-lo do Gustavo,
sendo seu nos dias de hoje.

Se continuar aqui relatando os feitos do Miguens, não haverá papel
nem tinta suficientes para descrever tão rica existência.

Estava aposentado, tinha se mudado para Brachuy, em Angra dos Reis,
onde tinha um pequeno apartamento que seria sua base para futuras incursões
pelo Oceano Atlântico.

Era um homem do mar, tinha duas paixões na vida: a Neuza e o mar.

Falei com ele longamente há cerca de dez dias atrás. Ele estava se
preparando para curtir sua aposentadoria. Não consegui falar com sua
companheira, sua esposa, Neuza Miguens.

Lí ontem, no dia da sua morte, no Correio Brasiliense, uma coluna,
chamada "Tantas Palavras" que publicou um poema de Carlos Drumond de
Andrade, que resume bem o que nós da vela sentimos pela morte irreparável do
Miguens:



A UM AUSENTE

Carlos Drummond de Andrade

Tenho razão de sentir saudade,
Tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
E sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
Sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?


Tenho razão para sentir saudade de ti,
De nossa convivência em falas camaradas,
Simples apertar de mãos, nem isso, voz
Modulando sílabas conhecidas e banais
Que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste


Caro Miguens,

Se já temos no céu um "farol divino", nada melhor que um navegador da
sua envergadura para auxiliar a Deus na difícil navegação celestial.

Bons ventos celestes te guiem meu irmão!!!!

José Luiz Motta de Avellar Azeredo
(Zelão)
29-10 2005







APLICAÇÕES PRÁTICAS DAS LEIS DE MURPHY 

EM VELEIROS E OUTRAS EMBARCAÇÕES.

Corolário Primeiro (Só para os regateiros):

O direito de passagem era seu até que a comissão julgadora provou o contrário.

Corolário Segundo (Para regateiro e cruzeiristas):

Todo abalroamento é evitável, mas não espere que o outro barco sempre lhe dê passagem. Ele pode não conhecer esta lei.

Lei da comunicação a bordo:

O celular só toca quando você está entrando na barra, com ondas pela popa, vento fraco e motor quebrado.

Exceção da lei acima:

É possível, mas raro, que ele toque quando você está atracando.
Não adianta desligar o celular nestas horas, pois se assim você o fizer, haverá uma ligação urgente da sua mulher quando você liga-lo e a briga será inevitável. É melhor enfrentar a barracom celular tocando que a briga.

Lei probabilística do encontro das massas:

A retranca sempre encontrará uma cabeça no caminho. É apenas uma questão de tempo.

Lei da ancoragem:

Não importa onde você lance o ferro, ele nunca unhará de primeira.

Exceção a regra acima:

Se unhar de primeira, ele vai garrar à noite e você ficará a deriva.
Mais uma exceção:
E se não garrar a noite, você terminará por ter que cortar o cabo e perder o ferro, para poder sair dali.

Lei da profundidade:

O Ecosonda é um instrumento que serve apenas para dizer em que profundidade você bateu!

Confirmação da lei acima:

Os ecosondas com alarmes servem para ficar apitando e confirmando que você bateu naquela profundidade.

Lei da inércia:

Nunca acelere à ré para evitar a colisão quando chegando em um pier. Isto só fará um barulho danado e chamará a atenção dos presentes no local para ver a sua abalroada no pier, que será inevitável, do contrário você não teria acelerado à ré!

Lei da sobrevivência:

Quando você tem a bóia, não tem o cabo. Quando você tem o cabo, não tem a bóia. Quando você tem os dois, ninguém cai ao mar.

Estigma do Cruzeirista:

Um veleiro é a maneira mais cara de se viajar de terceira classe.

Lei das coordenadas I :

Quando você acertar a quilha do seu veleiro em uma pedra submersa que não está na carta náutica, não é a carta que está desatualizada, é você que não está no local certo. Aquelas pedras sempre, sempre estiveram lá. Acredite. Tome isto como um dogma de fé!

Lei das Coordenadas II :

O GPS é o instrumento de altíssima utilidade à bordo. Até você encalhar!

Lei das Coordenadas III :

As coordenadas são fixas, mas os bancos de areia não.
Antítese da lei acima:
Quando os bancos de areia são fixos, ninguém tem os way points.

Lei do comportamento a bordo:

Se os outros que estão a bordo estão falando palavras esquisitas e fazendo coisas com aquele amontoado de "cordas" que você não sabe pra que serve, NÃO tente aprender! NÃO toque em nada! NÃO fale nada! Fique na sua.

Lei do "Jaime":

Se você é o passageiro que se enquadra na lei acima... Apenas para sua informação: O tal de "Jaime" não aparece nunca, por mais que o pessoal avise "Olha o Jaime!" você não o conseguirá ver. Ele é um ser mitológico, e dizem ser a causa daquele cano grosso vir de um lado pro outro de repente. Ver referência da lei probabilística do encontro das massas. Estas duas leis se completam.

Lei da probabilidade em Orça:

Nunca reclame que seu barco não orça bem. É muito, muito mais provável que você ainda não tenha  aprendido a velejar corretamente no contra vento.

Antítese:

Salvo se você tiver um O'Day. Neste caso é compreensível e, acredite, ou outros velejadores que sempre passam por você lhe serão solidários e compreenderão suas dificuldades. Apenas acene com a mão e diga - mas com orgulho - "É um O'day!"

Lei do bordo negado:

Não é verdade que o Hobie Cat 14 nega o bordo. É o bordo que nega ele.
Teoria da bebida a bordo:
Apreenda a beber conhaque. Ele lhe libertará quando acabarem a cerveja e o gelo. Pense a respeito.

Lei do Calado das embarcações:

O calado do seu veleiro é sempre maior que a profundidade de acesso daqueles points paradisíacos que outros velejadores visitam.
Lei da motorização:
Motor de popa, apesar de inanimado, tem humor. Procure trata-lo bem para que ele esteja sempre de bom humor.

Lei da atração dinâmica rotacional:

Toda rede de pesca receberá um hélice em movimento.

Lei da ruptura dos mastros:

Um dia acontecerá com você. Espere e verás.

Lei da insubmergibilidade das embarcações:

Todo barco que se diz insubmergível, assim o será até que afunde.
Lei da insubordinação:
Se existe um contra-almirante... Por que ele não está preso?!!!

Teoria da conformação:

Se a sua mulher não gosta de velejar, conforme-se com o problema dela. Ou seja, o problema é dela, não seu! Continue velejando!

Leis dos nós de marinharia:

O único nó que você precisa saber é aquele que você já sabe. Qualquer outro é redundante e você não se lembrará mais como fazer quando precisar dele, assim atenha-se ao único nó que você já sabe.

Enunciado das coordenadas visíveis:

Se você anda vendo a linha do equador, os meridianos,  way points, rotas, e coisas do gênero... Pare de beber agora e procure um médico.

Lei da redundância:

Quanto maior o número de bombas de porão que você instalar, mas água elas bombearão para fora enquanto o barco afunda.

Teoria da atração dos opostos:

Até que se prove o contrário, os Jet skis e as lanchas, são atraídos pelos veleiros por uma força invisível ou algo neste gênero.

    Enviado por Carlos Westone / Antonio Cláudio
setembro de 2005







DIÁRIO DO NAVEGADOR PETER BLAKE ASSASSINADO NO BRASIL.
UMA PÁGINA QUE NUNCA MAIS SERÁ ESCRITA






7/12/2001 -  Veja a seguir, trechos das anotações de quinta-feira captadas no web site do neo-zelandês Peter Blake que foi morto em um tiroteio na Amazônia depois de um ataque pirata.

LOCAL: Rio Amazonas
SITUAÇÃO Ainda Navegando
CONDIÇÕES Agradáveis
TEMPERATURA DO AR 35 C
VENTOS 15 nós a leste
CONDIÇÕES DO MAR Moderado/encrespado
VISIBILIDADE Moderada
O entardecer fez com que a superfície do rio ficasse de um cinza gorduroso -- com o céu escurecendo rapidamente depois que as cores douradas e alaranjadas do sol se foram. Sempre esperamos que a noite seja clara, e hoje a lua vai surgir logo após as 9 da noite -- mas isto significa duas horas e meia de escuridão total antes disto.

Há clarões de relâmpago pela frente -- o radar mostra uma faixa de chuva se estendendo dos dois lados do nosso curso. Há luzes de navios, tráfego de barcaças, balsas e pequenas cidades; e as chamas dos potes flutuantes marcando as extremidades das redes de pesca a serem evitadas.

Uma brisa fresca sopra da nuvem de relâmpago e da chuva que não chegou ainda. A lua apareceu mas logo sumiu por trás das nuvens carregadas -- sentimos algumas gotas -- mas isto passa, deixando-nos em condições mais claras, a única brisa vindo da velocidade do barco.

O rio hoje está calmo e plano -- às vezes fica agitado com sopros de vento das nuvens -- e se acalma novamente. Há um membro da tripulação na proa do Seamaster -- no posto de observação -- principalmente para grandes troncos de madeira, plantas boiando ou barcos de pesca sem luzes. Ele segura uma grande lanterna para checar de vez em quando.

O vigia está em contato com a cabine do piloto -- onde a tripulação monitora os motores, checando de hora em hora a casa das máquinas, bombeando combustível, marcando nosso progresso na carta e controlando o radar e o receptor de profundidade -- os dois instrumentos mais úteis para esta viagem no rio. Pouco mais do que alguns minutos se passam sem uma mudança de curso para ficar na parte mais funda, ou evitar um banco de areia, ou passar uma ilha, portanto não há muito tempo para relaxar.

Hoje há faixas de fumaça -- fumaça densa -- saindo de algumas enseadas para fora da floresta -- formando paredes por cima do rio. O cheiro da floresta queimando enche o ar -- e também nossas cabines.

Dia:

Durante o dia é mais fácil evitar os troncos e montes de vegetação, mas ainda é preciso observar de perto. Não velejamos há mais de dois meses -- mas isto deve mudar em breve quando virarmos à esquerda da embocadura do rio e entrarmos nos ventos alíseos -- no início da semana que vem, vamos torcer!

Sentado aqui na proa vestindo apenas shorts, longe do barulho dos motores, com apenas o bater das ondas abaixo de mim, a sombra de nossos mastros e bandeiras na superfície do rio marrom é muito claro a bombordo. O sol não está mais a pino, mas dentro de três semanas estará no ponto extremo do sul e começará a volta de seis meses para o ponto mais ao norte.

Um dia comum é de 3 horas de plantão e 6 de descanso -- mas comparado a uma viagem no mar, o stress é consideravelmente maior, por isso é bom recuperar as horas de sono sempre que possível e estar totalmente pronto para a noite novamente.

Porquê:

Novamente faço a pergunta: -- Por quê estamos aqui? Qual o objetivo de sair da Antártida em março, fazer reparos em Buenos Aires durante o inverno no sul, e fazer o longo percurso para o norte para passar algum tempo na Amazônia? A tecnologia nos permite levar esta (e outras) partes do mundo para lares e escritórios e salas de aula de forma quase imediata -- através da Internet e do nosso site, www.blakexpeditions.com

Se estamos com calor -- então você sabe que é agora -- não a semana passado ou o ano passado. Se estamos preocupados, ou temos um problema -- é agora. Estamos transmitindo o que encontramos -- não de forma glamourizada -- simplesmente como é.

Poderíamos ter vindo para cá de avião -- ficado algumas semanas -- e ido embora. Mas isto não nos teria dado a essência da Amazônia. Viajar no Seamaster significa que apreciamos a imensidade desta região aquática -- e em troca sentimos algo muito especial por ela. Quando encontramos pessoas, também têm uma noção diferente do que somos e porque estamos aqui.

A qualidade da água e a qualidade da vida em todas as suas formas infinitas são partes críticas da saúde como um todo deste nosso planeta, -- não apenas aqui na Amazônia, -- mas em toda parte. Queremos que as pessoas recomecem a cuidar do meio-ambiente da forma como ele deve ser cuidado.

Para vencer, você precisa acreditar que pode fazê-lo. Você estar apaixonado pelo que faz. Você realmente tem que ``querer'' o resultado -- mesmo se isto significar anos de trabalho. A parte mais difícil de qualquer projeto é começar. Nós começamos -- estamos a caminho -- temos uma paixão. Queremos fazer diferença.

Saudações afetuosas, Peter 

Redação 360
Fonte: Canal de esportes Terra - Reuters











HOMENAGEM AO PROEIRO 

"Sujeito que tem de combinar a agilidade de um macaco com a força de um elefante, a vista de um gavião, o ouvido de um rato, a resistência de um banbu cortado em noite de luar.
Deve possuir o pescoço de uma girafa para enxergar em volda da buja os barcos que navegam a sotavento e a capacidade de respirar até debaixo d'água.
São preferidos os que possuem costas largas para fazerem as vezes de bode espiatório e que tenham quatro ou mais braços, com as respectivas mãos, estas delicadas, - tipo parteira, para desatar nós criminosamente atados por comandantes e imediatos de meia tijela.
Deve saber torcer o pescoço horas a fio, sem descansar para "cantar" a buja; deve possuir um peso certo, com tolerância apenas de gramas, com uma carne insensível que lhe permita deitar em cima de olhais e escotas em bolinas cochadas que nunca mais terminan.
Eremita que vive na proa de um barco a vela sem que possa, dedicar-se à idéias próprias, tendo que estar prestes a executar cegamente qualquer comando que soa do cockpit- mesmo que o mesmo se trate de mudar uma "asa de pombo" seis vezes em cinco minutos.
Somente pode fumar e se alimentar havendo vento de popa, pois de outra forma a água o arrancaria do convés com sanduiches e o cigarro em dois tempos.
É o sacrificado das regatas vitoriosas, pois, por motivo de economia incompreensível, não recebe medalhas, desaparecendo do palco depois de obtida a vitória com o esqueleto doído, os olhos inchados pela água do mar, a boca amarga, e as mãos rijas de tanto se agarrar, mas com o coração entornando porque...
GANHAMOS !!!

Este artigo é de autor desconhecido e foi publicado em janeiro de 1948 no Yachting Brasileiro, que foi uma revista famosa, importante e o único veículo de comunicação durante muito tempo no Brasil para o Iatismo ...







UMA REGATA EM SOLITÁRIO       
    Conta-se em dos preceitos ZEN que a verdadeira força é construída sobre o reconhecimento  da própria fragilidade , pois ai não haverá a ilusória presença da prepotência .
 
    Da mesma forma a solidariedade e união são construídas sobre o reconhecimento do próprio isolamento.  Não é por   coincidência que a reestruturação da Flotilha Delta 26 surgiu no cais , ao término da Regata Solitário 2000 .

    A Solitário não é uma simples regata , é um jogo de xadrez onde vence quem melhor planeja , quem antecipa o imprevisto , quem já sabe o que vai fazer, onde vai estar em cada momento da disputa , quem não esquece da própria fragilidade e assim se fortalece . A Solitário é uma regata na qual na  véspera se dorme pensando nela .

    A Regata Solitário não se corre só . Quem assim pensa vive uma ilusão . A percepção do próprio isolamento nos une e nos torna solidários , a flotilha segue tão em grupo como em nenhuma outra regata , ninguém começa , corre ou chega só , mas em grupo .
   
    Ninguém deseja o erro de ninguém , pois o erro de  um pode afetar a segurança do outro . Ninguém está só , em momento algum .   Se alguém ainda duvida , por favor olhe de novo e com atenção a foto tirada  no cais do Iate após a Solitário 2000 , acredito que ela ainda está na  página do Espaçonáutico.  
 
    Houve um período em que a Vela em Brasília se enfraqueceu pois viveu a  ilusão que cada um estava só e quando percebemos isto , nos fortalecemos em  torno das flotilhas , agora que as flotilhas se fortalecem , não se deve  interpretar por isto que um grupo se isola , nós apenas nos agrupamos e  todas as flotilhas vão se agrupar também e velejar juntas, solidárias, quem sabe até sob um mesmo rating , poderemos até estar em "barcos separados", mas como na Regata Solitário , velejaremos sempre juntos, apesar da ilusão de estar só de alguns poucos . A Vela de Brasília , nossa "grande flotilha" caminha para uma importante reestruturação e nela ninguém estará só .

    Nossos barcos foram esvaziados e pesados recentemente , muitos de nós está  relutante em novamente acrescentar peso ao barco , mas eu quero solicitar   que na próxima Regata Solitário acrescentemos um pequeno peso aos nossos   barcos , pois deixaremos no cais nossos tripulantes.
   
     Sugiro que cada barco   leve para uma caixa de papelão que vai estar no cais do Iate , um agasalho de frio ou um quilo de alimento não perecível , para que até simbolicamente  mostrarmos que não estamos sós .






    Aguardamos todos dia 08 de julho na linha de largada em frente ao Cota Mil !
..... de colete salva-vidas é claro .

Um abraço e bons ventos ( ... no máximo até 12 nós ! )

Ivan Malheiros
22-06.2001







Cerimônia para Mudar o Nome do Seu Barco
Nem os mais céticos navegantes atrevem-se a trocar o nome de seus barcos.
Saiba o porquê e, mais importante, saiba como trocar "de maneira segura".

Todo mundo sabe que mudar o nome de um barco dá um azar danado e fará você querer esquecer tudo que diz respeito a náutica em geral. Mas e quando você, após meses de procura, encontra o seu sonho em forma de barco batizado com um nome insuportável para as suas convicções ou que será motivo de risos ao pronunciá-lo no rádio; ou pior ainda, com o mesmo nome da sua ex-mulher, com a qual a sua atual desconfia que você "anda tendo um caso"?
Mudar o nome de um barco deve ser encarado como um processo doloroso. Desde os tempos antigos, os navegantes sabem que existem "barcos azarados" e, entre esses, os mais azarados são os que desafiaram os deuses e trocaram de nome.
De acordo com a lenda, todo barco é "inscrito" pelo nome no Livro das Profundezas, uma espécie de registro de nascimento, e é conhecido pessoalmente por Poseidon e Netuno, os deuses do mar. É natural portanto que, se queremos mudar o nome de um barco a primeira coisa que deveremos fazer é excluí-lo do Livro das Profundezas e da memória de Poseidon. Este é um processo trabalhoso que começa pela remoção de qualquer traço do antigo nome. Isto é essencial é deve ser conduzido escrupulosamente.
No processo de remoção do nome, é aceitável que se use algum tipo de tinta corretora, muito usada nas máquinas de escrever de antigamente, para apagar o antigo nome dos livros de bordo e outros registros escritos. É recomendável, no entanto, a simples eliminação dos livros e papéis que contenham o nome antigo. Não se esqueça das bóias e do nome gravado no costado. Em nenhuma hipótese carregue a bordo qualquer coisa que exiba o novo nome até que todo o processo de purificação esteja terminado.
Quando você estiver certo de ter eliminado todos os vestígios do nome antigo, prepare uma chapa de metal com o antigo nome escrito com caneta hidrocor (tinta solúvel em água). Você irá necessitar também de uma garrafa de champagne de boa qualidade. Como se trata de uma ocasião solene, convide seus amigos para servirem de testemunhas.
Comece o ritual invocando o nome do soberano das profundezas como a seguir:
"Oh poderoso soberano dos mares e oceanos, a quem todos os barcos e nós que nos aventuramos em seus vastos domínios somos obrigados a prestar homenagens, lhe imploramos na sua imensa graça que elimine definitivamente de seus registros o nome (insira aqui o antigo nome do barco) o qual deixou de ser uma entidade em seus domínios. Como prova disso, nós submetemos esta chapa que o ostenta para ser corroída por seus poderes e, para sempre, banida dos mares (Nesse momento, jogue a chapa com o nome antigo no mar, pela proa do barco). Em agradecimento por sua generosidade, nós oferecemos este brinde a sua majestade e a sua corte (derrame pelo menos metade da garrafa de champagne no mar, observando o sentido de leste para oeste; o restante pode ser oferecido aos amigos que serviram de testemunhas)"
É usual que a cerimônia de batismo do novo nome seja executada imediatamente após o ato de purificação. Pode, no entanto, ser executada a qualquer tempo após esta cerimônia. Para o batismo, você irá necessitar mais champagne. Na verdade muito mais por que você terá mais alguns deuses para agradar.
Continue o batismo clamando por Poseidon como a seguir:
"Oh poderoso soberano dos mares e oceanos, a quem todos os barcos e nós que nos aventuramos em seus vastos domínios somos obrigados a prestar homenagens, lhe imploramos na sua imensa graça que registre nos seus livros esse valoroso barco, daqui em diante e para sempre chamado (insira o novo nome), guardando-o nos seus poderosos braços e tridente e garantindo sua segurança e breves singraduras através do seu reino. Em agradecimento por sua generosidade e grandeza, nós oferecemos este brinde a sua majestade e a sua corte (Nesse momento, derrame o conteúdo da garrafa de champagne menos uma taça para o capitão e uma taça para sua companheira, no mar, observando o sentido de oeste para leste)"
O próximo passo na cerimônia é para acalmar os deuses dos ventos. Isto lhe garantirá ventos favoráveis e mares calmos. Como os quatro ventos são irmãos, é razoável invocá-los ao mesmo tempo sem deixar de citá-los pelo nome.
Proceda conforme abaixo:
"Oh poderoso soberano dos ventos, sob cujo poder os nossos barcos atravessam indefesos a superfície dos mares, nós lhe imploramos que permita a este valoroso barco (insira o novo nome) os benefícios da sua generosidade, garantindo ventos de acordo com as nossas necessidades".
Olhando para o norte, derrame uma generosa porção de champagne em uma taça apropriada e, apontando para o norte declame: Oh Grande Boreas, soberano do vento norte, conceda-nos permissão para usar seus enormes poderes nas nossas singraduras, nunca nos submetendo ao açoite de seu sopro gelado (N.T.: aqui obviamente, o autor se refere ao vento norte gelado do hemisfério norte. Nós, no hemisfério sul, deveremos trocar os dizeres finais pelos do vento sul)
Olhando para o oeste, derrame a mesma generosa porção de champagne em uma taça apropriada e, apontando para o oeste declame: Oh Grande Zephyrus, soberano do vento oeste, conceda-nos permissão para usar seus enormes poderes nas nossas singraduras, nunca nos submetendo ao açoite de seu sopro selvagem
Olhando para o leste, derrame a mesma generosa porção de champagne em uma taça apropriada e, apontando para o leste declame: Oh Grande Eurus, soberano do vento leste, conceda-nos permissão para usar seus enormes poderes nas nossas singraduras, nunca nos submetendo ao açoite de seu sopro poderoso
Olhando para o sul, derrame a mesma generosa porção de champagne em uma taça apropriada e, apontando para o sul declame: Oh Grande Notus, soberano do vento sul, conceda-nos permissão para usar seus enormes poderes nas nossas singraduras, nunca nos submetendo ao açoite de seu sopro escaldante (N.T.: aqui obviamente, o autor se refere ao vento sul quente do hemisfério norte. Nós, no hemisfério sul, deveremos trocar os dizeres finais pelos do vento norte)
Use o restante da champagne para iniciar a celebração em honra da ocasião. Uma vez encerrada a cerimônia, você poderá trazer para bordo todos os itens que contenham o novo nome do barco. Se você tiver que pintar o novo nome no casco antes da cerimônia, assegure-se que este somente seja descoberto/revelado depois de encerrado o procedimento.


Este artigo foi originalmente publicado em inglês, em boatsafe.com. Catado na Internet pelo Comandante Roberto Gruner, Pretexto/CDJ, sua publicação no popa.com.br foi autorizada pelo tradutor do artigo, João Carlos, Yahgan, do veleiro.net, em maio/2004.





O QUE É UM VELEIRO ?

Dentre as criações humanas, um veleiro é a que mais se assemelha a um ser vivo.

Responde as forças da natureza quase como um animal.

É uma cruzamento de peixe com ave, seu casco corta a água com delicadeza e força, suas velas são asas potentes que o impulsionam sem bater.

O veleiro sempre oferece nobremente o melhor de si, é um ser instintivo a quem é impossível enganar com ordens erradas que pretendam impor-lhe manobras contra a natureza.

Não existem veleiros exatamente iguais, eles possuem alma e personalidade próprias. A personalidade é uma característica que se percebe facilmente nos barcos de madeira, embora muitos barcos construídos com outros materiais também tenham seu próprio caráter que se acentua com o passar dos anos a medida que o barco amadurece e sua personalidade se define.

Quase todos os veleiros tem cheiro próprio e o som que produzem é sua voz. Sua alma tem origem na terra e no sol que durante muitas décadas animaram as árvores de cujos troncos se cortaram as tábuas do casco, dos móveis e convés.

Se nutre do intelecto, do sangue, do suor e das lágrimas de quem o desenhou o construiu, pintou, forjou suas ferragens, costurou suas velas, - obra de sonhos para ser tratada como um filho.

Tem na alma, a esperança, a ansiedade, temores e recordações de todos aqueles que levados pelo vento, com a mão no timão, caçaram as escotas e as adriças. Fundamentalmente invoca a alegria dos bons momentos compartilhados entre os barcos, os homens e mulheres que amam os veleiros e os desfrutam passando a bordo momentos intensos de suas vidas.

Nativos da polinésia, grandes navegadores e construtores de veleiros acreditam que objetos criados com arte, tempo e esforço se carregam de "maná"- um valor espiritual agregado. O maná é a melhor maneira que eu encontrei de definir este " não sei o que" tão grande, tão importante, sensação de presença viva que em maior ou menor medida um veleiro sempre nos transmite.


Comandante Hernan Luis Biasotti
Agosto de 2002



  

A VIRADA DO CRHYSALIS    
 
"Acabou acontecendo comigo!

Pensei que só fosse acontecer no mar, com ondas e ventos fortes. 

Ontem, no feriado, sai sozinho no meu microtonner, Chrysalis. A bolina não
queria descer totalmente. Achei estranho. Ela emperrou. 
Mesmo assim, fui velejar sozinho. Felizmente, tenho como princípio, nas
minhas velejadas solitárias, seja de micro ou laser, usar o colete. Ajudou.

O vento estava forte, com rajadas de tempestade. O barco já adernava muito.
Num dado momento, bastou uma bela rajada. Não consegui soltar a vela a
tempo. Todos falavam que o microtonner vira. E virou. E eu sozinho nele.

Ajudou a minha experiência de dezenas de viradas no laser. Imediatamente,
sem entrar n'água, subi na bolina. Ela escoregava muito, estava cheia de limo.

O receio de perder o barco e afundá-lo começava a tomar conta de mim. Até
que consegui manter a calma. Mas gritava como um louco para dois
windsurfistas virem me ajudar. Eles tentaram, só que dificilmente uma
plancha a vela navega a contravento.

Só me acalmei quando percebi que o barco se estabilizou mesmo virado com as
velas n'água inclusive o balão que estava no saco pendurado na proa. 

Olhava para o lado, AABB e Clube Naval e nada. Nessa situação que parecia
uma eternidade devo ter ficado uns cinco minutos, talvez até menos. Com
ventos muito fortes.

O socorro até que não demorou. Três marinheiros da AABB, vieram de lancha.
Mas nesse momento, não sei se é porque o vento diminuiu o barco começou a
voltar. 

Aí cometi outro erro. Com medo do barco voltar a virar novamente, e encima
de mim, joguei-me n'água.

Vi-me na situação de estar com o barco já em pé e eu n'água tentando subir
me segurando no guarda macebo. E pior. As velas estavam caçadas e ele
começou a dar seguimento. Eu tentava nadar para a popa e o barco se
distanciava. Nesse momento, pedi ao marinheiro para subir no barco e soltar
as velas. Ele fez e o barco parou

Consegui chegar na popa e subi no barco tremendo. Não sei se foi de cansaço
ou de nervoso. Nesse momento, chega o segundo socorro. Edmar e Gabriel
vieram com a lancha Miss Ingrid que me rebocaram até o Clube Naval.

Constatei os estragos. Nenhum. Felizmente, apenas as minhas tralhas
reviradas. Por falta de um box, elas ficam todas lá. Parafusos e rebites da
caixa de ferramentas estavam por todo lado. Tudo espalhado. E íncrível. Nem
uma gota d'água por dentro. Só o susto.

No Clube, empreendi uma investigação para saber porque a bolina não tinha
descido. Subi e desci até que constatei que um cabinho, que caiu dentro da
caixa de bolinha a tinha emperrado. 

Constatei também que não tinha colocado a trava da bolina. Poderia ter sido
pior, se a bolina tivesse descido pelo lado superior na virada. Teria sido
muito mais difícil retornar o barco na posição normal.

Foi bom ter acontecido isso tudo. Aprendi muito. 

1º Nunca mais velejo com a bolina suspensa, mesmo um pouco. Bolina retrátil
no micro levantada, só serve para viagem ou encalhe. Muitos velejam com a
bolina levantada no través e no popa. É um risco.

2º colocar sempre a trava da bolina.

3º Em solitária, velejar sempre de colete (isso eu já faço).

4º Se virar, subir na bolina e se colocar mais na ponta possível para
formar alavanca. E quando começar a desvirar subir imediatamente no barco e
descaçar todas as velas.

5º Estou pensando seriamente em deixar um cabo de uns 10 metros na popa,
solto n'água. Caso caia, tenho por onde segurar se o barco tiver seguimento.

O pior de tudo será me livrar do trauma. Só espero não ficar com medo de
qualquer adernadinha. Já estou tentando me livrar do trauma da quebra do
meu mastro, que também aconteceu nas porradas de vento.

Ou será que virar o barco será algo normal daqui para frente? Como é no
laser. Quando encalhei pela primeira vez, perto da ilha, achei que era o
fim do mundo. Hoje, encalho até brincando. 

Enfim. Uma conclusão. O Micro realmente vira. Mas no porradão (com a bolina
semi-levantada). Mas ele desvira também."


Ivan Marinovic Brscan






CAUSO DO ZIGA       
Ola Pessoal.

Aproveito este espaço para contar um fato real do amigo Ziguinha.
Velejador experiente,  que mostra em seu relato a diferença entre SER JOVEM e SER EXPERIENTE.
          
Espero que apreciem  e aprendam com ele.
 


    "Eu não sou de contar muitos "causos" pois às vezes as pessoas acham que você  quer aparecer, mas tenho um interessante em relação ao auto-connhecimento. 

    Em um campeonato mundial de monotipos, eu vinha disputando posições no  primeiro través e estava prestes a dar o jibe para montar a segunda bóia.  

    Havia 2 barcos tentando o compromisso por dentro, de forma a me pedir água na   bóia. A velocidade do vento estava prá lá de 30 nós!. Eu olhei para a bóia e   vi que não haveria uma vaga de onda ideal para que eu pudesse surfar  e "jibear" junto à bóia com velocidade e pouca pressão na vela. Olhei para os   dois concorrentes e vi que eram dois garotos bem afoitos e que vinham dando   mais tranco na escora que Vemagueti na subida do Colorado. Na hora pensei - É banho na certa e com direito a enrosco de cabos e mastros - Eu então dei uma   discreta orçada para provocá-los a entrar em compromisso, dando a impressão   de que tinha sido vencido no embate e que teria que dar água para os dois. 
 
    Mas realmente a experiência nesse momento falou mais alto que a juventude. Os dois entraram por dentro para pedir água, erraram o jibe e viraram. O mastro  do barco de sota-vento ainda deu uma violenta pancada no fundo do outro barco  que já estava virando. Eu, como não vi realmente nenhuma onda alta para "jibear", fiz a manobra mais "manzanza", elegante e segura que existe 
nessas horas, -cambei em roda-. Os dois ficaram para trás.

    "Quando você é jovem você tem certeza de que pode tudo.

    Quando você se torna mais, digamos assim, experiente, você sabe exatamente do que você NÃO é capaz."
Ziguinha - 22-06 2001












Lições de Cidadania

Ana Leite & Brena Zanon
Programas voluntários mudam o futuro de meninos carentes do Entorno de Brasília

Lars Grael e Mestre Fernandes

Há dez anos Edson Nascimento vem navegando outra realidade. Morador do Jardim Ingá, ele trocou as peladas com os amigos e horas em frente a TV pelas aulas de natação e navegação do mestre Fernandes, como é conhecido o suboficial da Marinha de Guerra, Manoel Fernandes Vieira, hoje na reserva. Aos 26 anos, Edson Nascimento é funcionário da TBA Informática, foi aprovado no concurso da Rede Sarah de Hospitais para marinheiro regional de convés e ainda dá aulas práticas de vela para outros meninos, voluntariamente.
Edson é apenas um dos mais de 160 meninos que já passaram pelo Programa Mentalidade Marítima, criado pelo Mestre Fernandes. O Programa surgiu em 1985, na casa do Suboficial Fernandes, uma chácara no Jardim Ingá. "Eu via esses meninos aí, sem visão de futuro e comecei a pensar o que poderia fazer para ajudar, para dar uma profissão para eles. Navegar é o que mais sei e o que posso ensinar", conta Fernandes.
Para que os meninos tirassem a carta para pilotar embarcações marítimas, Fernandes começou a dar aulas de natação, vela, meio ambiente e cidadania e também aulas teóricas sobre o Regulamento Internacional Para Evitar Abalroamento no Mar (Repiam) e a segurança na navegação.
A parte prática do curso era dada no Clube Naval. Por conta própria, Fernandes levava os meninos no fim de semana para o clube. O trabalho começou a chamar atenção do Distrito Naval, pela disciplina e profissionalismo dos alunos.

Oportunidade para crescer

Escolinha no Calex

Em 1998, o programa foi oficializado com o patrocínio do Comando do 7ª Distrito Naval e da Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar. A ajuda foi mais que bem-vinda. "O que todas essas crianças precisam é de uma oportunidade. Com esse auxílio da marinha, podemos dar uma oportunidade mais concreta", afirma o Suboficial.
Com os recursos da marinha, Mestre Fernandes paga o transporte durante os quatro meses do programa, os uniformes - inclusive sapatos - e paga, também, um pró-labore para os monitores, como forma de incentivo.
Ainda assim, as aulas iniciais do Programa são dadas na chácara do mestre. Lá, cerca de 100 crianças, todas de família carente, tem aulas de natação, meio ambiente e teoria de regulamentos para segurança no mar. Dos 100 garotos que começam o curso, apenas 20 são escolhidos para passar os fins de semana no Clube Naval, onde acontece o treinamento prático e as aulas de educação sexual, higiene, moral e cívica e outros temas. "Para conseguir uma vaga, a criança tem que mostrar muito interesse e disposição, estar na escola e ter boas notas", garante Fernandes.

Triângulo da vida

Uma das lições do Programa, que todos os garotos têm na ponta da língua é o triângulo da vida: lealdade, humildade e honestidade. "Aqui, além de velejar, nós aprendemos que o mais importante é ter amor ao próximo, ser leal e honesto. Nunca mentir", conta Francisco Abimael Pereira, 14 anos, ex-aluno do curso, que trabalha como instrutor no Clube do Exército, durante a semana e como voluntário no Mentalidade Marítima aos sábados e domingos.
A outra, não é lição. E não tem preço: a disciplina. "Uma coisa importantíssima nesse programa é a disciplina que eles adquirem. Com a disciplina, conseguimos mostrar o que é bom e o que é ruim e elevar a auto-estima da criança e isso, querendo ou não querendo ela nunca vai esquecer.", afirma Adryani Fernandes Lobo, professora voluntária do projeto.

Corrente de Cidadania


O Programa dura quatro meses e vários dos alunos formados nas cinco turmas do curso trabalham em clubes e empresas de Brasília. "O alcance do projeto é enorme. Além do caráter social, de cidadania, os participantes saem com perspectivas de emprego e, o que é melhor, uma profissão", diz o Diretor de Programas Especiais do Instituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto (Indesp), o iatista Lars Grael.
O exemplo de cidadania fica tão marcado que a maioria dos alunos continua no projeto como voluntário. É o caso de Allan Moreira, de 16 anos. Atualmente, Allan trabalha no Clube do Exército durante a semana, mas seus fins de semana tem rumo certo: aulas voluntárias no Mentalidade Marítima. "Eu faço questão de ensinar tudo o que eu sei para quem for determinado. Do mesmo jeito que eu gostei de estar aqui, aprendendo com o Mestre Fernandes, eu acho que os outros também gostariam de ter essa oportunidade, "conta.
Além de ser instrutor voluntário, Allan Moreira vai pessoalmente recrutar novos alunos entre a vizinhança. "Eu quero subir e levar sempre alguém comigo. Igual ao que "seu" Fernandes faz por todos nós, ensina.
Fernandes se emociona ao ver sua lição tão bem aprendida. "O meu objetivo não é só ensinar esses meninos. O que eu quero é isso mesmo: que eles levem esse conhecimento, essa disciplina para outras pessoas, que eles lancem essa semente na vida," diz.

Projeto Navegar

Allan Moreira: ex-aluno do Mentalidade Marítima, trabalha como voluntário nos fins de semana.

A semente vem dando frutos. O programa Mentalidade Marítima está sendo implementado em Pernambuco e no Pará com apoio do Governo Federal. Além disso, o programa foi adaptado para ser implementado em todo o interior do País pelo Indesp, com o nome de Projeto Navegar.
O Projeto Navegar, que visa a inserção social através da prática de esportes marítimos, não tem fim profissionalizante. Segundo Lars Grael, a idéia é ajudar na criação de uma consciência ambiental correta. "Por falta de cultura náutica, muitas besteiras já foram feitas no meio ambiente. Nosso objetivo é evitar que isso aconteça novamente, além de divulgar o esporte náutico", afirma.
O Projeto muda conforme as caraterísticas de cada região. "Em cada estado, o projeto tem características próprias. No DF, temos aula de canoagem e barco a vela, no Pará só damos aulas de canoagem. Depende da realidade e necessidade de cada região", explica o diretor.
E em cada região, os parceiros são diferentes. O governo federal entra com o material e os professores e cada estado com a infra-estrutura. Em menos de um ano, 120 adolescentes já foram beneficiados. Mas, segundo Lars Grael, "Os projetos sociais só dão certo quando realmente alguém se envolve emocionalmente naquilo, que tenha competência e conhecimento. Temos vários programas sociais no Indesp e vemos que as boas parcerias são aquelas que são dirigidas por pessoas do padrão do Mestre Fernandes", revela.

Rumo à Cidadania

Judô é um dos esportes praticados pelos meninos do Varjão.

Outro programa que mostra que é possível fazer algo por quem necessita, com o mínimo de recursos financeiros, é o Programa Rumo à Cidadania, desenvolvido pelo Grupamento dos Fuzileiros Navais de Brasília.
Iniciado em 98, o programa é voltado para meninos de 8 a 14 anos do Varjão, periferia de Brasília. Com muita disciplina, aulas de natação, judô, atletismo, vela, futebol, moral e cívica, música e reforço escolar, os meninos vão aprendendo que têm capacidade. "A gente procura mostrar que a vida não é fácil, mas que existe toda uma perspectiva para aqueles que lutarem, respeitarem e batalharem. Se eles agirem corretamente, forem disciplinados e lutarem pelas coisas vão conseguir tudo o que quiserem", afirma o comandante do Grupamento, Rui Gutierrez.
De segunda a sexta-feira, de março a dezembro, os 40 meninos pegam o ônibus no Varjão e chegam ao grupamento às 7h00. Tomam café, trocam de roupa, fazem o hasteamento da bandeira e começam o treinamento. Às 11h15, eles almoçam e voltam para casa.
O sucesso é tão grande, que já tem fila de espera de pais querendo colocar os filhos no Programa. Não era para menos. As notas dos alunos vêm melhorando consideravelmente, isso sem falar na alteração do comportamento. Os meninos confirmam. "Aqui eu aprendi a não mexer com as drogas, respeitar os mais velhos, a ser humilde e companheiro. Agora eu ajudo muito em casa, e quando eu venho pra cá minha mãe fica mais despreocupada. Eu melhorei muito, fiquei mais interessado nos estudos", revela Leandro Ribeiro, 13 anos, há três anos no Programa.
Estar na escola é uma das condições para entrar no Programa. Tirar notas boas, nem tanto. "A gente pede que eles tragam também o boletim, mas não podemos exigir nada em termos de escola. O que nós fazemos é aumentar o tempo de reforço quando as notas começam a baixar, e mostrar que sem o estudo a gente não consegue nada na vida", conta o comandante.
A resposta não podia ser mais positiva. Os meninos acabam se espelhando no exemplo dos próprios fuzileiros que tem de estudar muito para crescerem na carreira. "Sem o estudo a gente não é nada, se não fosse o estudo, o cabo e sargento não estariam onde estão. Eu quero ser fuzileiro naval, como eles, porque eles são os melhores", anuncia Aclésio Reis Macedo, 13 anos.
O trabalho dos soldados é voluntário, eles ficam metade do expediente com as crianças. Mas é tão compensador que muitas vezes, perdem fins de semana para levar os meninos a passeios. "É muito bacana de ver como esse garotos quando tratados com respeito passam a tratar as pessoas dessa mesma maneira", conta Gutierrez.
Segundo ele, o propósito do programa é formar cidadãos mais educados, mais parte da sociedade, que se façam respeitar e respeitem.

Curso Mentalidade Marítima Programação
básica - Duração: 4 semanas

  1. Aulas de Boas Maneiras, Higiene e Valorização do Idoso
  2. Aula de Veleiro Amador e Disciplina
  3. Aula de Proteção ao Meio Ambiente
  4. Aula de Moral e Cívica e Direito do Código da Criança e do Adolescente
  5. Aula de Boas Maneiras, Higiene e Socialização
  6. Aula de Educação Sexual e Higiene
  7. Aula "A Marinha do Brasil"
  8. Aula de Meteorologia
  9. Aula de Primeiros Socorros
  10. Aula de Relação Pessoal e Vida Moderna
  11. Aula de Adestramento Naval (Infantaria)
  12. Aula de Navegação
  13. Aula de manobras com embarcação a motor
  14. Aula de "O mar e o Brasil"
  15. Aula de Marinharia
  16. Aula de Pintura Especial
  17. Prova final